segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Mas me diga só o que for bom"



Conte-me sobre ti, como andas e o que fazes. Mas me diga só o que for bom. A vida já é tão dura por si só, por isso hoje só quero saber de coisas boas. Fale-me de balões coloridos e grama fresca. O quinhão ruim da vida já costuma saltar aos olhos sempre, já tem força por si só, não precisa de ninguém que o alimente falando sobre tempestades. Encha meus olhos de alegria, mate minha sede por brincadeiras, flores e amores. Transforme o que tiveres para me contar em sorriso. Faça a forte chuva virar orvalho cheiroso. Todo mundo sabe que é só questão de ponto de vista. Hoje quero rir do copo quebrado e do leite derramado. Cansei de conversas carrancudas e de sentimentos pesados, cansei de ser sério quando não precisa. Deixei a seriedade só para o inevitável do acaso.

E não se esqueça de me fazer rir, por favor. Preciso de energia. Não me sugue com rancores e tristezas. Quero viver no confortável Sol de uma manhã de outono, sentindo a brisa leve de um sorriso sincero. Nas inevitáveis noites escuras quero que me conte o suficiente para conseguir enxergar o brilho das estrelas. Sei que assim o escuro não tarda a passar.

Fale mais, não pare tão cedo, tenho medo do silêncio mórbido. Divida tudo comigo, por favor. Partilhe sonhos, já que os pesadelos podemos transformar em algodão doce juntos num banco de um parque de diversões. Mas te peço que, por favor, não transforme tudo isso num grande livro de auto-ajuda. Conte-me por flores os rancores. Não me explique o que preciso, apenas destrua o que pesa em mim com brisas espontâneas e alegres.

Faça de tudo, mas não me iluda. Não quero máscaras de carnaval. A quarta-feira de cinzas não tarda em chegar. Troco isso pelo nariz vermelho com um sorriso sincero pintado no desenrolar da rotina. Quero sentir seu cheiro de verdade alegre numa importante reunião de negócios.

Estou à espera do que há de melhor na vida. Fale-me mais sobre isso. Coisas ruins já aparecem mesmo quando a gente não as espera, imagine se eu ousasse esperá-las. Quero abrir a janela e deixar a luz entrar. Não costumo me sair bem no escuro, me perco fácil. Por isso deixo sempre acesa a lamparina do meu abajur nas noites mais escuras. Só espero poder contar contigo quando a lâmpada não mais funcionar. 
Texto cotado em 2º lugar no Projeto Bloínques (94ª edição musical)

2 comentários:

  1. Belíssimas palavras.
    Parabéns!
    Abrçs.

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  2. Adorei o jeito como você desenvolveu o texto, me prendeu por completo. E fico feliz de teres conhecido o projeto por mim, aliás, desejo-lhe sorte nesta edição! Bjs

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