sábado, 22 de outubro de 2011

Foi na forte chuva que resolvi sair





Foi durante uma tempestade que ele resolveu sair pela rua. A chuva e o vento eram tão fortes que o faziam andar forçando para se deslocar. Era uma noite vazia. Não tinha pressa, pois tinha se acostumado com o temporal. Sabia que não tardava em passar como sempre acontece. O carregar do guarda-chuva era um pouco dificultoso. Estava indo comprar seu jantar porque prepará-lo sozinho em meio a uma noite chuvosa já não lhe agradava, embora soubesse cozinhar bem. Tinha pouca fome, mas estava com sede em meio a uma torrente de toneladas de água que caia sem parar. Chegou na esquina da envelhecida rua que terminava tangencialmente em uma rua maior. Parou para se lembrar qual direção o restaurante ficava. Decidiu qual caminho tomar, só que restou dentro de si, porém, um viés de insegurança pela decisão que o incomodava. Acalmou-se por lembrar que nos dois lados da rua haviam restaurantes. Só que em um dos caminhos havia um em que o tipo de comida, embora boa, não lhe iria agradar no momento. Não estava disposto a comer em um lugar que não pretendia. Momentaneamente ficou feliz em saber que também tinha uma opção na direção errada e isso o impulsionou a seguir caminho.

Ao andar pela direção escolhida, não conseguia pensar muita coisa, mas julgou-se merecedor da melhor opção de restaurante para si, afinal ele era um dos poucos corajosos que ousaram sair na rua em meio à forte tempestade fria que se mantinha constante na noite. No caminhar, lembrou-se de uma boa receita que recebera de uma amiga e que poderia ter preparado em casa. Não era um de seus pratos prediletos, mas iria poupá-lo de caminhar nessa insegurança em uma forte tempestade. Fiz a escolha certa, suspirou. Se sentiu feliz por não ter ficado entediado em casa preparando sua receita quase-boa. Aprendeu a gostar da chuva, dos ventos e da noite. Via algo de mágico e bonito naquilo tudo. Que aliviante saber que temos temporais como esse às vezes pensou.
Durante seu devaneio, um gato surgiu do nada e, de supetão, passou por entre suas pernas, fazendo com que rapidamente voltasse para a realidade, sentindo o aumento das batidas de seu coração no ouvido. Um belo susto suspirou. O acontecimento o fez lembrar que é bom ficar atento ao andar sozinho à essa hora da noite nessas circunstâncias.

O molhado da forte chuva já o alcançava para mais dos joelhos quando então pôde ver. O letreiro amarelo embaçado pela chuva não negava. Escolhera o caminho errado da rua. O tradicional restaurante passou a ser sua única opção viável. Foi para isso que saí do quente aconchego do meu lar, desabafou. Para comer em um lugar quase-bom e, ainda por cima, ter que pagar por isso. Se julgou culpado por tudo isso e botou a culpa no mundo.

Ao adentrar no local, aceitou sua condição e não estava mais disposto a esperar nada de bom. Os garçons o atenderam prontamente. Pediu então um prato que não conhecia, mas que tinha uma foto bonita. Não acreditou que seria melhor do que o que pediria no restaurante que gostaria de estar agora. Comeu rapidamente sem apreciar muito seu paladar que fora cuidadosamente preparado. E bebeu sedento um suco revigorante que escolhera aleatoriamente. Por ironia do destino até que o prato estava inesperadamente delicioso. Não queria estar mais ali. Seria atentar contra si mesmo reconhecer que aquele restaurante fez valer toda sofrida caminhada na chuva. Pagou a cara conta e se retirou do local.

Ao sair, percebeu que a chuva havia cessado. As ruas estavam desertas e ainda com cheiro de chuva. Pode então rapidamente voltar para sua casa carregando consigo apenas o inconformismo. Enfim de volta ao lar. Tomou banho, vestiu roupas limpas e quentes. Não queria mais pensar em nada. Ligou a TV para relaxar e fugir da vida sem consideração que possuía. O noticiário que não assistia há 3 dias clamava as principais notícias. “Restaurante italiano da Rua 6 de maio continua interditado pela vigilância sanitária”. Como eu gosto de comida italiana, suspirou aliviado, que bom que comi um ótimo macarrão com um ótimo tempero essa noite, ficou feliz.

5 comentários:

  1. bom texto, e as vezes andar na chuva da a sensação de paz

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  2. Maneiro o blog.
    http://doncarioca.blogspot.com/

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  3. lindo texto, linda inspiração. Adorei a parte do macarrão, adoro!
    kkk

    Beijo guri!

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  4. Adorei o Conto Rômulo... me lembrou as noites de Teresópolis durante o inverno =)
    Ruas vazias, pessoas escondidinhas no aconchego dos seus lares ...

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